quinta-feira, 17 de julho de 2014

"FORÇA ÉTICA E ESPIRITUAL DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO NO CONTEXTO ATUAL DA GLOBALIZAÇÃO"

Força Ética e Espiritual da Teologia da Libertação No Contexto Atual da Globalização (Paulinas, 2006) do teólogo católico Pablo Richard (1936 - ) traz um resumo da história da Teologia da Libertação, suas referências, seus temas, dilemas e propostas dentro do contexto de globalização. Reforça a tradicional opção preferencial pelos pobres e excluídos, propõe a reforma da Igreja Católica e do Cristianismo em geral a partir do Terceiro Mundo e denuncia o neoliberalismo globalizante como um grande inimigo da fé. 

O livro se divide em três partes. Na primeira apresenta um um resumo da história da Teologia da Libertação ressaltando como marcos históricos e teóricos o Concílio Vaticano II (1962-1965) e as Conferências do Episcopado Latino-americano de Puebla (1968) e Medellín (1979). Esses eventos católicos, que tiveram reflexos no mundo protestante, esboçaram um pensar e um agir em favor dos pobres sem abrir mão da fé, da espiritualidade da evangelização. 

Na segunda parte, a perspectiva de um outro mundo em que seja possível que se estabeleçam os desafios atuais da Teologia da Libertação como a opção preferencial pelos pobres, a reforma estrutural e hierárquica da Igreja Católica visando que esta seja mais humana e libertadora, etc. 

Na terceira parte, com base no Jesus "histórico" e na expansão inicial da Igreja tal como é narrada no Novo Testamento,apontam-se os fundamentos para uma reconstrução do Cristianismo. 

Em muitas passagens, todavia, o texto é ingênuo e utópico, só condena o capitalismo privado sem denunciar a opressão do capitalismo de Estado (comunismo) e relativiza a pessoa de Jesus Cristo no diálogo interreligioso sobre o qual afirma que a pessoa humana deve ser o centro desse diálogo. 

Não é preciso muito esforço para ver que autor quer pautar a vida, a teologia e a organização da Igreja Católica e do Cristianismo em geral pelas demandas "politicamente corretas" da chamada Esquerda. Essa agenda deve sim ser considerada e deve ser visto que os pobres, excluídos, marginalizados, etc. não são propriedades de uma ideologia nem de uma teologia. Levada às últimas consequências, a tese do livro leva-nos a pensar que o Cristianismo deveria ser mais uma ONG, só  que religiosa, sem pretensões de crer numa revelação cabal de Deus em Jesus Cristo que serve de critério para avaliar qualquer doutrina e prática teológica, jurídica, política e ideológica. A singularidade de Cristo e suas consequências sempre será um tropeço para agradar um mundo plural. E ela também sempre será desafiará os cristãos a viverem à altura dessa singularidade, não só defendendo uma ortodoxia teológica, mas vivendo o amor ao próximo, ao marginalizado, ao excluído, lutando por cidadania, denunciando os pecados sociais, etc.

A leitura, não obstante, é agradável e estimula a reflexão e a ação. O autor tem um histórico de engajamento com o que defende não sendo mero teórico acadêmico. Isso dá muita força e vivacidade a seu texto. Ainda que se cale sobre a opressão socialista (o autor militou no movimento chileno Cristãos Pelo Socialismo), a conclamação que Richard faz para se lutar com fé e espiritualidade por um mundo melhor é válida e necessária. O grande aprendizado está em que o maior desafio da fé cristã não é o ateísmo, mas a idolatria do mundo mercadológico e globalizado que diviniza coisas e coisifica o ser humano: "A espiritualidade da libertação não se defronta com o ateísmo, mas, fundamentalmente, com a idolatria" do lucro, do poder globalizado e do mercado."


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