
circula pela internet com ares de documento com veracidade histórica.
Por
Joalsemar Araújo
Introdução
Circula em muitos sites da internet, em sua maioria blogs, um texto contendo a sentença que Poncio Pilatos pronunciou contra Jesus Cristo. A multiplicidade das ocorrências do texto na internet não indica uma pesquisa abalizada, mas sim a multiplicidade da operação “corta-e-cola”: alguém achou o texto interessante num site copiou e colou em outro. E o texto circula on line com ares de documento antigo que comprova a historicidade de Jesus Cristo. Aliás, circulam duas versões, uma tendo sua fonte primária num artigo de um jornal espanhol e a outra uma tendo sua fonte primária num artigo de um jornal francês.
Alguns pontos me assinalaram que o dito texto não tinha a fundamentação histórica pretendida: sua ausência como fonte na discussão do Jesus histórico e seus erros históricos visíveis no texto.
Pesquisando na própria internet e em livros, constatei o que suspeitava: conforme já comentado pelos estudiosos de obras apócrifas [1], na melhor das hipóteses, a sentença de Pilatos é um texto apócrifo pseudepigráfico[2] relativo ao Novo Testamento pertinente a grupo de textos apócrifos conhecido como Ciclo de Pilatos.
Na Sentença, Pilatos julga e condena a morte Jesus, o Nazareno, dando os motivos disso e sendo respaldado por líderes judeus. Salvo os erros históricos e alguns erros bíblicos, o texto não contradiz a narrativa do Novo Testamento quanto ao julgamento de Jesus nem acrescenta nova informação à narrativa [3].
Em sequência veremos o resumo histórico das obras sobre Pilatos, a história do descobrimento da Sentença e as razões da sua rejeição como a verdadeira sentença pronunciada por Pilatos.
NOTAS
* A imagem acima é reprodução do quadro Ecce Homo de Antonio Ciseri. Disponível em: www.art-prints-on-demand.com/.../ecce_homo.jpg
[1]Craveri, Marcello. I Vangeli apocrifi, Torino 1969, pp. 380-381. Otero, Aurélio de Santos. Los Evangelios Apócrifos. Editorial Católica: 1963, pp.532-535. Portal, Beatriz Ontaneda; Wells, Rose Marie Paz. Jesus segun los apocrifos: La cronica secreta de la vida de Jesus segun los evangelios prohibidos. Ediciones Nowtilus: 2008, p.306
[2] Isto é: escrito como se fosse o próprio Pilatos narrando. A pseudepigrafia é um recurso muito recorrente nos livros apócrifos para dar-lhes autenticidade.
[3] Talvez o desconhecimento geral do texto, à exceção de alguns artigos e blogs da internet, deva-se justamente por isso: o texto basicamente não contradiz a Bíblia. Se a contradissesse, certamente seria fonte de inúmeros documentários do National Geographic, do Discovery Channel e quem sabe até parte do Código Da Vinci.
REFERÊNCIAS
Otero, Aurélio de Santos. Los Evangelios Apócrifos. Madrid: Editorial Católica,1963.
Portal, Beatriz Ontaneda; Wells, Rose Marie Paz. Jesus segun los apocrifos: La cronica secreta de la vida de Jesus segun los evangelios prohibidos. Madrid: Ediciones Nowtilus, 2008. Disponível em: http://books.google.com.br.
Sentenza di Pilato. Artigo da Wikipédia disponível em: http://it.wikipedia.org/wiki/Sentenza_di_Pilato