segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A SENTENÇA DE PILATOS - PARTE I

Texto contendo pretensa sentença de Pilatos contra Jesus Cristo
circula pela internet com ares de documento com veracidade histórica.
Por
Joalsemar Araújo


Introdução

Circula em muitos sites da internet, em sua maioria blogs, um texto contendo a sentença que Poncio Pilatos pronunciou contra Jesus Cristo. A multiplicidade das ocorrências do texto na internet não indica uma pesquisa abalizada, mas sim a multiplicidade da operação “corta-e-cola”: alguém achou o texto interessante num site copiou e colou em outro. E o texto circula on line com ares de documento antigo que comprova a historicidade de Jesus Cristo. Aliás, circulam duas versões, uma tendo sua fonte primária num artigo de um jornal espanhol e a outra uma tendo sua fonte primária num artigo de um jornal francês.
Alguns pontos me assinalaram que o dito texto não tinha a fundamentação histórica pretendida: sua ausência como fonte na discussão do Jesus histórico e seus erros históricos visíveis no texto.
Pesquisando na própria internet e em livros, constatei o que suspeitava: conforme já comentado pelos estudiosos de obras apócrifas [1], na melhor das hipóteses, a sentença de Pilatos é um texto apócrifo pseudepigráfico[2] relativo ao Novo Testamento pertinente a grupo de textos apócrifos conhecido como Ciclo de Pilatos.
Na Sentença, Pilatos julga e condena a morte Jesus, o Nazareno, dando os motivos disso e sendo respaldado por líderes judeus. Salvo os erros históricos e alguns erros bíblicos, o texto não contradiz a narrativa do Novo Testamento quanto ao julgamento de Jesus nem acrescenta nova informação à narrativa [3].
Em sequência veremos o resumo histórico das obras sobre Pilatos, a história do descobrimento da Sentença e as razões da sua rejeição como a verdadeira sentença pronunciada por Pilatos.

NOTAS

* A imagem acima é reprodução do quadro Ecce Homo de Antonio Ciseri. Disponível em: www.art-prints-on-demand.com/.../ecce_homo.jpg

[1]Craveri, Marcello. I Vangeli apocrifi, Torino 1969, pp. 380-381. Otero, Aurélio de Santos. Los Evangelios Apócrifos. Editorial Católica: 1963, pp.532-535. Portal, Beatriz Ontaneda; Wells, Rose Marie Paz. Jesus segun los apocrifos: La cronica secreta de la vida de Jesus segun los evangelios prohibidos. Ediciones Nowtilus: 2008, p.306
[2] Isto é: escrito como se fosse o próprio Pilatos narrando. A pseudepigrafia é um recurso muito recorrente nos livros apócrifos para dar-lhes autenticidade.
[3] Talvez o desconhecimento geral do texto, à exceção de alguns artigos e blogs da internet, deva-se justamente por isso: o texto basicamente não contradiz a Bíblia. Se a contradissesse, certamente seria fonte de inúmeros documentários do National Geographic, do Discovery Channel e quem sabe até parte do Código Da Vinci.

REFERÊNCIAS

Otero, Aurélio de Santos. Los Evangelios Apócrifos. Madrid: Editorial Católica,1963.

Portal, Beatriz Ontaneda; Wells, Rose Marie Paz. Jesus segun los apocrifos: La cronica secreta de la vida de Jesus segun los evangelios prohibidos. Madrid: Ediciones Nowtilus, 2008. Disponível em: http://books.google.com.br.

Sentenza di Pilato. Artigo da Wikipédia disponível em: http://it.wikipedia.org/wiki/Sentenza_di_Pilato