segunda-feira, 30 de julho de 2007

BÍBLIA: Verdade ou Mentira X

"Quem dizem os homens que sou eu?" Marcos 8.27b

Esta pergunta de Jesus ainda ecoa muito forte hoje, e os homens têm tentado respondê-la, cada um a seu modo, chegando às mais diferentes conclusões: "Jesus é um extraterrestre", "Jesus era um mago", "Jesus era um judeu polêmico", "Jesus nunca existiu", etc. Não muito diferente, a matéria A Bíblia Passada a Limpo procura dar sua opinião sobre Jesus Cristo.E neste ensejo, o autor mostra ignorância científica e teológica sobre o assunto que está tratando. Diz o texto: "O problema central do Novo Testamento é que seus textos não foram escritos pelos evangelistas em pessoa, como muita gente supõe, mas por seus seguidores, entre os anos 60 e 70, décadas depois da morte de Jesus, quando as versões estavam contaminadas pela fé e por disputas religiosas" (p.42). Evidentemente que o autor não dá indícios para provar o que afirma. Que provas ele tem que os evangelistas em pessoa não escreveram os Evangelhos? Como ele prova que houve contaminações no texto? Se tivesse pesquisado teria descoberto que existem inúmeros papiros e pergaminhos do texto grego do Novo Testamento que confirmam que os Evangelhos são muito antigos. Além disso, testemunhos históricos que datam do século II d.C. identificam os evangelistas como autores dos livros que levam seus nomes. Estes testemunhos são muito convergentes entre si, devendo, pois, merecer crédito. O exame interno dos Evangelhos também confirma esses testemunhos. Por exemplo, o texto do evangelho de Mateus reflete que seu autor era conhecedor e tinha interesse em assuntos que envolviam dinheiro; isto condiz com a informação de que Mateus era cobrador de impostos. Outro exemplo: a tradição cristã nos informa que Lucas era médico; tanto no evangelho e como no livro de Atos dos Apóstolos, que são de sua autoria, encontram-se expressões e dados pertinentes à linguagem médica ou senão, com um interesse médico. Apesar disso, as afirmações da matéria de Vinícius Romanini não reconhece os documentos do Novo Testamento como se fossem dignos de confiança para nos fornecer informações concretas sobre Jesus. Portanto o autor da matéria deve ignorar que:
1. Novo Testamento é a coleção de documentos mais amplamente copiado e divulgado da Antigüidade, existindo mais 5300 manuscritos gregos antigos que têm sua confiabilidade demonstrada pelos princípios da Crítica Textual e da Papirologia. E confirmando isto, existem também 19300 manuscritos de versões, traduções e citações antigas. Nenhum documento da história antiga tem essa confirmação. Portanto, se rejeitarmos esses documentos, rejeitaremos tudo o que sabemos sobre o Mundo Antigo;
2. Os Evangelhos são a principal fonte de informação sobre Jesus. A Arqueologia, através da Papirologia e da Paleografia, tem demonstrado que os Evangelhos foram escritos na época em que ainda havia testemunhas vivas de Jesus, entre 60 e 100 d.C.
Portanto, a afirmação da matéria de que os evangelhos foram escritos muitas décadas depois de Jesus não tem base histórica. Antigamente, os críticos datavam a redação dos Evangelhos em muitas décadas depois de Cristo. Porém, jamais chegavam a um acordo, pois essas datações dependiam das idéias preconcebidas de cada crítico. Agora porém, a datação dos Evangelhos baseia-se em evidências mais concretas, fornecidas pelo estudo da Papirologia aplicada aos fragmentos de manuscritos dos Evangelhos, inclusive os achados recentemente em Qumran, próximo da Mar Morto, Israel [1];
3. A Lingüística tem colaborado para confirmar a fidelidade histórica dos Evangelhos, verificando a base do idioma aramaico por traz do texto grego dos Evangelhos. O aramaico era a língua que Jesus e os primeiros pregadores cristãos falavam. Isto mostra que o texto escrito dos Evangelhos é a ressonância grega da pregação aramaica de Jesus e dos primeiros discípulos. Existe, pois, continuidade entre Jesus e o texto escrito dos Evangelhos; estes não são , portanto, invenções cristãs, mas o conteúdo da mensagem e ministério de Jesus Cristo tal qual nos transmitiram suas testemunhas;
4. As pesquisas arqueológicas, geográficas e históricas relacionadas com a época de Jesus têm colaborado para confirmar a fidelidade histórica dos autores dos Evangelhos; a própria matéria cita alguns lugares descritos nos Evangelhos e que foram estudados pela Arqueologia (p.49).Ao afirmar que o texto do Novo Testamento sofreu inúmeras deturpações (p.42), o autor parece ignorar as evidências científicas da Crítica Textual e da Papirologia citadas acima. O autor faz afirmações sobre Jesus que não pode provar, pois não condizem com o que se sabe de Jesus (p. 42): " O que sabemos com certeza..." - Que certeza pode transmitir um autor que não conhece plenamente o assunto que está tratando? Quais são as bases dessa certeza?"...é que Jesus foi um judeu sectário..." - O autor não pode afirmar que Jesus era um judeu sectário, pois ele não fazia parte de nenhuma seita de sua época, e por mais que ele confrontasse as tradições religiosas dos judeus, os Evangelhos mostram Jesus participando das tradições e instituições de seu povo: mandando pessoas aos sacerdotes (Mateus 8.4), reconhecendo algum valor positivo nos fariseus e escribas (Mateus 23.2,3), participando de casamentos (João 2.1-12) e das festas religiosas (João 5.1). Portanto, Jesus não era sectário; ele não se isolou de seu contexto sócio-religioso, como fizeram, por exemplo, as seitas essênicas."...um agitador político que ameaçava levantar dois milhões de judeus da Palestina contra o exército de ocupação romano." - Não podemos negar que houve questões políticas que determinaram a execução de Jesus.
Porém, não podemos afirmar que ele mesmo era um agitador que estava preste a levantar uma multidão de judeus contra o jugo de Roma, pois ele mesmo disse: "Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (Mateus 22.21b). Se Jesus quisesse gerar tal insurreição, não teria lhe faltado oportunidade; em João 5.14,15 lemos: "Vendo, pois, os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo. Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte." Se Jesus fosse o agitador político como descrito pela matéria, ele perderia uma oportunidade dessas de levantar o povo contra Roma? Sendo assim, pelo que foi exposto, as afirmações da revista são infundadas.

Notas
[1]Conferir as surpreendentes descobertas relatadas no livro Testemunha Ocular de Jesus. Novas Provas em Manuscrito sobre a Origem dos Evangelhos de Carsten Peter Thiede e Matthew D'Ancona, Imago Editora, 1996.
Obs: Muitas das informações descritas neste artigo se deve a um material bibliográfico abalizado, em especial a alguns artigos do monge beneditino D. Estevão Bittencourt publicados na revista Pergunte e Responderemos.

Imagens:
1ª: Usando como ponto de partida o crânio de um judeu do século 1, especialistas reconstituíram a cabeça de um homem que teria vivido na mesma época e lugar de Jesus. A reconstituição foi apresentada no documentário da BBC Jesus - The Real Story,2001.
O docuemntário NÃO afirma que este é o rosto de Jesus como popularmente se acredita.
Fonte:bibledudes.com
2ª: "Les Quatre Èvangélistes" (Os Quatro Evangelistas) de Jacob Jordaens (1593–1678).
3ª: O Fragmento de papiro 7Q5 identificado por José O'challagan. Mede c. 5,0 x 7,0 cm e contém trechos de Marcos 6.52.Fonte:www.preteristarchive.com/.../dss/7Q5/7q5.gif
4ª:O Papiro Rylands 457 (P52) descoberto no Egito; paleograficamente é datado antes de 150 d.C. no máximo.Contém o texto do Evangelho de João 18.31-33(anverso) e 18.37,38(reverso). Fonte:www.abu.nb.ca/.../LifeJ/P52Johnbigjpg.jpg
5ª: Denário com a efígie de César. No verso, Enéas, mítico herói troiano de quem César alegava ser descendente.
Fonte:www.geocities.com/Heartland/Lane/5599/mj/coins/denarius-1.jpg