quarta-feira, 29 de outubro de 2008

SENTENÇA DE PILATOS - PARTE IV


Uma sentença, várias versões: a história da cópia do Arquivo de Simancas

Os textos da Sentença de Pilatos que circulam na internet têm basicamente duas versões. Uma diz que a Sentença foi descoberta por espanhóis em 1580 na cidade de Áquila no então reino de Nápoles e que existe uma cópia autêntica da Sentença no Arquivo Geral de Simancas na Espanha. A outra versão afirma que a Sentença foi descoberta numa campanha francesa na mesma localidade, porém em 1820. O original ficou na Itália e a cópia traduzida foi para a França. Assim, o texto da Sentença tem duas versões em português na internet: uma versão traduzida do espanhol e outra do francês e percebe-se a diferença principalmente no tamanho do texto e no nome dos supostos líderes judeus que assinaram o documento. Veremos nesta parte a história do documento da versão espanhola.
Em princípios do século XVI, surgiu uma história de que a sentença de Jesus escrita em latim (hebraico, de acordo com algumas versões) tinha sido descoberta em uma caixa em Vienne, Sul de França (já vimos na parte II dessa pesquisa que esta cidade está ligada às lendas de Pilatos). Décadas depois a sentença é novamente descoberta em Áquila, no Reino de Nápoles (Itália), cidade próxima à antiga cidade romana de Amiternum tida como lugar de nascimento de Pôncio Pilatos.
Em 1580, soldados espanhóis[1] descobriram num templo antigo (outra versão diz cemitério), em um muro arruinado, uma placa de cobre delimitada por três caixas (uma de pedra; dentro dela uma de ferro e nesta uma de marfim); os soldados pensaram trata-se de um tesouro devido a tal revestimento. Porém, sua preciosidade era um documento em hebraico que traduzido descobriu-se ser o texto da sentença de Pilatos condenando Jesus. Várias cópias foram feitas da tradução (em italiano) e espalharam-se pela Europa, mas não sem o protesto de muitos eruditos que já a denunciavam como uma obra apócrifa ou mesmo uma farsa.
Em 1581 é publicado um manuscrito francês com a cópia da sentença trazendo o seguinte título:
“Tesoro ammirevole della sentenza pronunciata da Ponzio Pilato contro Nostro Signore Gesù Cristo rinvenuta miracolosamente scritta su pergamena in caratteri ebraici dentro un vaso di marmo, racchiuso in due o tre vasi di ferro e di pietra, nella città di Aquila nel Reame di Napoli, verso la fine dell’anno 1580. Tradotta dall’italiano al francese, sia per la pubblica utilità e l’esaltazione della nostra santa fede, che per la lode della detta città”. [2]
O documento ensejou durante dois séculos calorosa discussão na Europa em torno de sua autenticidade, pois alguns achavam tratar-se de uma farsa produzida pelos estudantes de Áquila e outros defendiam a autenticidade do pergaminho.
O documento original perdeu-se; parece ter ficado na igreja de São Bernardino de Siena até 1581 a partir de quando não se tem mais notícia do mesmo. Possivelmente foi enviado ao rei da Espanha, Filipe II, mas não se tem notícias desse original.
Atualmente só existem cópias da época do descobrimento do documento. Uma delas, que está na posse do Aurélio de Santis, estudioso da questão e autor do livro La Sentenza do Pilato, pertenceu inicialmente à biblioteca provincial de Áquila, terra da descoberta; outra está no Museu Nacional de Nápoles; uma outra foi enviada a Filipe II e se encontra atualmente no Arquivo Geral de Simancas (Valladolid, Espanha), onde foi catalogada com o número 847 na seção de Secretaria de Estado.
No século XIX, a Sentença voltaria a perturbar as mentes européias sendo que desta vez a partir da França. Veremos tal questão na parte VI de nosso estudo.
Em 1921, o jornal espanhol ABC publicou uma matéria com a tradução aproximada da Sentença do italiano para o espanhol. A cópia da matéria pode ser lida em: http://www.galeon.com/archivosemanasanta/sentencia.htm.
Essa matéria, infelizmente, foi mal interpretada por alguns textos na internet, o que levou a crença de que no Arquivo Geral de Simancas existe o texto original da Sentença de Pilatos. O que existe no Arquivo de Simancas é uma cópia em italiano cujo texto aparece na parte V desta pesquisa.


NOTAS

* Na foto acima o Arquivo Geral de Simancas em Valladolid, Espanha. Disponível em:adigital.pntic.mec.es/.../historia.htm

[1] Nesta época o Reino de Nápoles estava sob domínio do Reino da Espanha.
[2] Disponível em:http://www.ilcapoluogo.com/news.php?item.5.1

REFERÊNCIAS

Cautilli ,P. Ceccarelli, L. Ponzio Pilato e i rotoli di Amiternum. Artigo disponível em: http://www.ilcapoluogo.com/news.php?item.5.1

Otero, Aurélio de Santos. Los Evangelios Apócrifos. Madrid: Editorial Católica,1963.

Tvedtnes , John A. Hiding Records in Boxes. Disponível em: http://ispart.byu.edu/publications/books/?bookid=9&chapid=75

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