segunda-feira, 30 de julho de 2007

BÍBLIA: Verdade ou Mentira VII

A Conquista de Canaã: na Paz ou na Guerra?

Como a revista afirma que o povo de Israel não se originou de Abraão, nem dos eventos relacionados ao Êxodo e a Conquista (pois na sua opinião isto tudo não passa de lenda), precisa dar outra origem ao povo de Israel e a sua chegada em Canaã. Portanto a matéria afirma que os hebreus e os canaanitas eram um mesmo povo, sendo que os canaanitas eram sedentários e habitavam nos vales, enquanto os hebreus eram nômades e habitavam nas montanhas. Quando os canaanitas foram assolados por diversas invasões, os hebreus aproveitaram e penetraram vagarosa e pacificamente na terra de Canaã (p. 46).A revista, no entanto, parece ignorar que há um certo consenso entre os historiadores de que realmente o povo de Israel foi escravo no Egito, e de lá, penetrou em Canaã, pois não há motivos para se duvidar deste fato. A revista acerta quando afirma que os hebreus eram nômades, mas erram quando afirmam que eram o mesmo povo que os canaanitas. A própria palavra hebreu desmente este fato, pois este não é o nome de um povo ou raça específica, mas o nome genérico que os habitantes da antiga Palestina, Síria e Egito (os registros históricos destes povos entre os séculos XIX e XIV a.C. confirmam isto, mencionando-os como habiru ou Apiru) davam a todos os povos nômades (semitas ou não), isto é, povos que migravam de outras terras (o termo hebreu possivelmente significa " aquele que vem de além"). Portanto, o nome hebreu não designa um povo, mas sim uma condição social. Até o termo canaanita ou cananeu não designa só um povo específico, mas outros povos, inclusive os famosos fenícios. Desta forma canaanitas e hebreus não podem ser o mesmo povo, apesar de terem, comprovadamente, afinidades lingüísticas, culturais e religiosas. Em Gênesis 14.13 Abraão é designado de hebreu (e a partir daí este termo associou-se especialmente aos israelitas e aos judeus), e isto se encaixa com o que sabemos sobre este termo, pois Abraão e seu clã eram nômades. Os israelitas (que descendiam de Abraão por seu neto Israel) eram também hebreus, mas nem todos os hebreus eram israelitas. A revista confunde estes termos. Quando a revista nega a conquista de Canaã pelos israelitas (que são designados como hebreus) afirma que "a chegada dos hebreus teria sido um longo e pacífico processo de infiltração" (p.46).
Esta afirmativa tem um acerto e um erro. Ela acerta quando afirma que a conquista foi um longo processo. O livro de Josué afirma que, embora contando com a ajuda divina, os israelitas não conquistaram completamente Canaã, faltando muitíssima terra para ser conquistada (Josué 13.1-13). Portanto, nisto não há incoerência entre o que diz o texto bíblico e o que afirma a revista; se o autor da matéria tivesse lido o texto bíblico ele teria verificado isto. A conquista da Palestina só se deu depois de mais de 400 anos, no reinados de Davi e Salomão. A revista erra quando afirma que a conquista se deu pacificamente. O texto bíblico relata que Canaã foi sendo conquistada através de guerras, o que é confirmado pela própria Arqueologia através das famosas cartas de Tel el-Amarna. Estas correspondências, entre tantos fatos, descrevem a invasão de Canaã no mesmo período em que Josué conquistava parte de Canaã. Abdi-Hiba, rei de Jerusalém e subordinado ao faraó Amenófis IV, solicita a ajuda egípcia contra um povo que estava invadindo Canaã: "Os Habiru saqueiam todas as terras do rei. Se os arqueiros estiverem aqui este ano, então as terras do rei, o senhor, serão poupadas; mas se os arqueiros não estiverem aqui, as terras do rei, meu senhor, estão perdidas"[1].
Vários estudiosos, e a própria revista (p. 46) identificam os habiru ou apiru com os hebreus israelitas. Como já visto, o termo hebreu vem destas palavras, e era por elas que os egípcios e outros povos designavam o povo de Israel ( e. g., Êxodo 1.22). Assim sendo, a Arqueologia confirma que a conquista de Canaã pelos hebreus israelitas não foi pacífica como afirma a revista, pois os canaanitas pedem ajuda militar ao Egito.

Notas
[1] UNGER, Merril F. Arqueologia do Velho Testamento. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1985, p. 74.

Imagens:
Representação de um cananeu num relevo egípcio.Fonte:www.bible-history.com
Representação do mais popular dos deuses cananeus: Baal. Fonte:www.teenwitch.com