segunda-feira, 27 de outubro de 2008

SENTENÇA DE PILATOS - PARTE III

O Ciclo de Pilatos

Se a história secular silenciou-se sobre Pilatos a história religiosa transmitida pelos livros apócrifos muito diz sobre ele. O conjunto desses textos é chamado de Ciclo de Pilatos e compreende as seguintes obras: Evangelho Segundo Nicodemos (composto de duas partes, Os Atos de Pilatos e a Descida de Cristo aos Infernos), a Morte de Pilatos, Cartas de Pilatos a Tibério e de Tibério a Pilatos, Correspondência entre Pilatos e Herodes, Tradição de Pilatos, Declaração de José de Arimatéia, Vingança do Salvador e por fim a Sentença de Pilatos.
Os textos podem ser encontrados no site: http://br.geocities.com/cepak2001br/ciclodepilatos.html
Os textos apócrifos do Ciclo foram bem conhecidos na Cristandade primitiva. Volta do ano 150, Justino Mártir se refere às atas do processo contra Jesus em sua primeira Apologia (Apologia I 35,48). Em cerca de 200, Tertuliano no seu Apologeticum (passo 21) diz que Pilatos escreveu duas vezes a Tibério acerca de Jesus. Tertuliano chega a afirmar que Pilatos já era cristão em sua consciência. Orígenes, em cerca de 250, também menciona certas Atas de Pilatos. O uso que esses escritores cristãos faziam desses textos era de caráter apologético, isto é, visavam defender o cristianismo frente as autoridades romanas. Não é a toa que esses textos diminuem ou desculpam a responsabilidade de Pilatos na condenação de Jesus.
No século IV, durante a perseguição aos cristãos pelo imperador Maximino Daza, circularam textos das Atas de Pilatos que depreciavam a pessoa de Jesus visando desacreditar o fundador do cristianismo. Eusébio de Cesaréia em sua obra já citada (Hist. Eccl. I 9,3) denuncia o caráter fraudulento dessas Atas por suas imprecisões históricas. Em resposta a essas Atas difamadoras outras foram produzidas (conhecidas como Memórias do Salvador) mencionadas por Epifânio em seu Panarion no ano de 376. Nos seculos V e VI, os escritores eclesiásticos Orósio da Espanha e Gregório de Tours (França) também citaram certas Atas de Pilatos.
Em relação aos outros escritos do Ciclo de Pilatos, a Sentença de Pilatos, cujo o texto circula abundante na internet, tem a peculiaridade de não minimizar a culpa do líder romano nem faz recair a resposabilidade da condenação de Jesus sobre os líderes judeus como costuma acontecer nos textos apócrifos relativos a Pilatos. Também não procura diminuir a figura de Jesus. Parece ser antes fruto de um período em que a defesa do e o ataque ao Cristianismo já haviam de certa forma cessado refletindo assim um período depois do século VI.
Na quarta parte veremos a história dos documentos que originaram os textos da internet.

*Na foto acima o célebre ator Milton Gonçalves interpretando Poncio Pilatos no Auto da Paixão de Cristo espetáculo tradicional do calendário de eventos histórico-religiosos do Rio de Janeiro encenado desde 1983. Em 2007/2008 foi apresentado nas escadas da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Fotos e vídeo disponíveis em:http://ig.artes.com/paixao/


REFERÊNCIAS

Otero, Aurélio de Santos. Los Evangelios Apócrifos. Madrid:Editorial Católica, 1963.