segunda-feira, 30 de julho de 2007

BÍBLIA: Verdade ou Mentira IV

Moisés, És ou Não És???

Em sua incansável busca de erros históricos na Bíblia, a matéria afirma (p. 44): "Não há qualquer registro da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. Aliás, boa parte dos reinos e locais citados na sua jornada não existiam no século XIII a .C. e só surgiram 500 anos depois. A escolha do lugar que passou a ser conhecido como Monte Sinai ocorreu entre os séculos IV e VI d.C. por monges bizantinos". Pensando assim, a matéria conclui que Moisés, os princípios religiosos e o culto descritos na Torá, ou Pentateuco, (os cinco primeiros livros da Bíblia) teriam sido inventados por escribas do Templo de Jerusalém no século VII a .C. para combater a adoração de outros deuses além de Jeová. Ora, Moisés não está apenas associado com a religião judaica, mas com a fundação da própria nação judaica. Como séculos depois os "escribas do Templo de Jerusalém" inventariam os fundadores de uma nação que já existia há não muito tempo? O povo não lhes diria: "Quem é Moisés?", "Quem são Abraão, Isaque e Jacó?". Obviamente os escribas passariam por mentirosos. Além disso, não é apenas a Torá que menciona Moisés; quase todos os demais livros do Antigo Testamento que são de autores, épocas e lugares diferentes (portanto, não o produto de um grupo específico de autores de uma época específica que precisa inventar estórias) dão testemunho que existiu tal indivíduo; negar a realidade histórica de Moisés e do Êxodo é tornar inexplicável toda a história posterior de Israel. O fato de não haver registro arqueológico ou histórico da existência de Moisés depende da interpretação que o autor da matéria dá à Bíblia, à Arqueologia e à História. A Bíblia é o registro antigo mais confirmado pela Arqueologia. Embora a matéria mencione apenas o caso da batalha de Lachish (pp. 45 e 47) como sendo um episódio bíblico confirmado pela Arqueologia, existem muitos outros. Como exemplo, vejamos o caso do rei assírio Sargão II (721-705 a.C.).
Até meados do século XIX d.C., a única informação que tínhamos desse rei estava no livro de Isaías 20.1; por isso, alguns historiadores da época diziam que jamais teria existido tal rei. Porém em 1843, Paul Emile Botta deu início à descoberta do palácio deste rei, e posteriores escavações comprovaram não só a existência do rei Sargão II, como trouxeram à luz o período de seu reinado, fazendo dele um dos reis assírios mais conhecidos da História. E antes disso ele só era mencionado na Bíblia.
É óbvio que os monumentos egípcios jamais mencionariam sobre Moisés e os eventos do Êxodo. Os faraós e outros monarcas da Antiguidade não registravam suas derrotas; mas erguiam monumentos às suas vitórias. Que faraó, os quais se consideravam como deuses, registraria ter sido derrotado por um povo de escravos?
Não é de se estranhar que não haja outros registros antigos sobre a pessoa de Moisés além da Bíblia. É fato conhecido pelos historiadores que grandes líderes religiosos e filosóficos da Antiguidade somente são mencionados por outras fontes após seus ensinos terem alcançado um certo número de adeptos capaz de chamar a atenção da sociedade; isto se dá com Sócrates, Buda, Jesus, etc. Apesar de a revista mencionar que não há confirmação histórico-arqueológica para as pessoas e os relatos descritos no Êxodo, existem indícios lingüísticos, históricos e arqueológicos que mostram que a história da estada e da saída do povo de Israel do Egito não é lenda:
1. O uso de nomes, títulos e expressões egípcias encontradas na Torá tem sido confirmado pela Egiptologia, e demonstra que o autor da Torá deve ter sido educado em ambiente egípcio e escreveu para um povo familiarizado com este mesmo ambiente, o que é o caso de Moisés e do povo de Israel no período do Êxodo, que teria se dado durante o Novo Império Egípcio (1546-1085 a.C.);
2. Cidades com nomes semitas mencionadas em Êxodo como Sucote (12.27), Baal-Zefom, Migdol(14.2), etc. têm sido confirmadas pela Arqueologia, a qual atesta que no período do Êxodo a região em torno do delta do Nilo (que inclui a região de Gósen, onde estava o povo de Israel) era habitada também por vários povos semitas. Portanto, mais um testemunho em favor da veracidade do texto bíblico;
3. As condições climáticas referidas no Êxodo são particularmente do Egito e não da Palestina (a seqüência da colheita era diferente entre estas regiões, Êxodo 9.31,32). Portanto, o autor conhecia bem o Egito;
4. As referências geográficas da Palestina são comparadas com as referências geográficas do Egito (Gênesis 13.10; Números 13.22) dando a entender que os leitores não conheciam bem a Palestina, mas conheciam bem o Egito;
5. O uso do nome divino "Senhor dos Exércitos". Ao se datar documentos literários se verifica quais os termos-chave usados na época em que o escritor executou seu trabalho, para assim poder se determinar a data do escrito. No caso de livros religiosos, os títulos pelos quais Deus, deuses, santos, etc. são mencionados podem determinar a data da composição de determinado livro. Se a Torá tivesse sido escrita na época que a revista menciona (século VII a.C.) com certeza ela mencionaria o nome divino mais referido da época: Senhor dos Exércitos. Se ela mencionasse tal título divino, a teoria publicada na revista teria grande chance de estar certa, pois na época de Moisés este nome não era usado. E é justamente o que ocorre. De Gênesis a Deuteronômio, isto é, em toda a Torá, não é referido uma vez sequer o nome Senhor dos Exércitos, indicando assim que a Torá é bem anterior à data publicada na revista. Muitos outros exemplos podiam ser dados, mas estes são suficientes para podermos perceber que existem indícios histórico-arqueológicos para a existência de Moisés e para a confiabilidade histórica da Torá.Em relação ao Monte Sinai, diz a revista que este local não existia e que só foi identificado mais tarde.
Ora, a região do deserto do Sinai (hoje conhecida como Península do Sinai) é bem conhecida desde a Antiguidade. Nela, os antigos egípcios trabalhavam com mineração. O texto bíblico diz que o povo entrou na região do deserto do Sinai e acampou diante de um monte também chamado Sinai e que nele Moisés recebeu os Dez Mandamentos (Êxodo 19 e 20).Quem conhece a geografia da região sabe que, na realidade, não existe aí um único monte, mas vários. Qual deles seria o monte que Moisés subiu ? Não podemos determinar com certeza, pois o texto bíblico não nos informa a latitude, a longitude, a altitude, a silhueta do monte para o identificarmos. E por que deveria? Qual seria a utilidade dessas informações? Na época em que o texto bíblico foi escrito, o monte exato, com certeza, era conhecido, e portanto, outras referências geográficas são naturalmente dispensáveis. Se os monges bizantinos do século IV d.C. identificaram um monte como sendo o mesmo que Moisés subiu, isto é um caso pessoal deles, e isto em nada tira o crédito da narrativa bíblica.
E até a História Natural dá indícios da verdade histórica contida na Bíblia: árvores e animais mencionados na Torá (e.g.: acácia e tahash, espécie de animal marinho, Êxodo 35.7) não se encontravam na Palestina, mas se encontravam particularmente no Egito e na região de Sinai e no mar entre ambos. A ovelha montesa, o antílope selvagem (Deuteronômio 14.5) e a avestruz (Levítico 11.16) são peculiares a península do Sinai. Concluímos com as palavras do Dr. Gleason Archer, especialista em Antiguidades Orientais: "É difícil imaginar como uma lista desse tipo poderia ter sido feita nove séculos depois, após o povo de Israel ter vivido todo esse tempo numa terra que não tinha nenhum desses animais"[1]. Assim vemos que temos evidências suficientes para crermos que o povo de Israel esteve na região do Sinai, embora não possamos determinar com certeza qual monte Moisés subiu.

Notas
[1] ARCHER Jr., Gleason. Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas. São Paulo: Editora Vida, 1997 p. 51. A maior parte desse texto deve-se as informações contidas nessa obra, em especial às páginas 49 a 58.

Imagens:
1ª: Monte tradicionalmente identificado como sendo o Monte Sinai.
Fonte:www.biblepicturegallery.com
2ª: Cena da queda da cidade de Laquish (Láquis)no palácio de Senaqueribe, Nínive. Fonte:knp.prs.heacademy.ac.uk
3ª: Representação de Moisés na sinagoga de Dura-Europos na Síria.
Fonte: http://commons.wikimedia.org
4ª: Moisés de Michelângelo na Igreja de são Pedro em Vicoli. Fonte:commons.wikimedia.org