quarta-feira, 26 de setembro de 2007

ESTÃO COSME E DAMIÃO ENTRE OS CRENTES?

O que tem haver Cosme e Damião com os evangélicos?
Muita coisa.
Porém, uma densa nuvem de superstição, idolatria e preconceito ofuscaram o que esses dois irmãos gêmeos têm para nos ensinar. Embora suas vidas estejam envoltas em muitas lendas, existe um fundo histórico que nos permite conhecer o valor edificante da vida desses mártires cristãos.
Nascidos na Arábia, numa família cristã, no século III d.C., estudaram medicina na Síria e depois foram praticá-la na cidade portuária de Egéia na Ásia Menor (atual Ajass na Turquia). Eles usaram medicina para servirem a Deus e ao próximo; recusavam receber qualquer pagamento por seus serviços, sendo assim chamados de anargiros, expressão grega que significa “inimigos do dinheiro”, e seu estilo de vida levava muitos à fé cristã.
Parece que Cosme e Damião não utilizavam apenas seus conhecimentos médicos para curar; reza a tradição que eles atribuíam sua capacidade de curar doenças ao poder do nome de Jesus Cristo.
No final do século III e início do século IV, estourou a grande perseguição aos cristãos movida pelo imperador romano Diocleciano (245-313): as Escrituras foram queimadas, os soldados cristãos foram expulsos do exército, os locais de culto destruídos; os cristãos perderam cargos públicos e a privação de defesa perante os tribunais diante de qualquer acusação. A população do Império foi intimada a realizar sacrifícios públicos aos deuses romanos sob pena de morte. Infelizmente, muitos supostos cristãos negaram a fé, oferecendo sacrifícios aos ídolos; porém, outros, e entre eles, Cosme e Damião, perseveraram e pagaram com a vida o preço de sua fidelidade ao Senhor.
Das tradições que falam da morte dos gêmeos, a mais verossímil é a que afirma que eles foram acusados de feiticeiros e inimigos dos deuses romanos, sendo presos pelo governador romano Lísias; como não negaram a fé em Cristo se recusando a prestar culto aos ídolos, foram torturados e depois decapitados. Isso ocorreu em 27 de setembro em torno de 283-287 d.C.
Com o tempo, houve muitas transformações na Igreja. Embora superassem as perseguições, os cristãos que se seguiram a Cosme e Damião, foram cada vez mais influenciados pelo paganismo ao seu redor. Estranhamente, Cosme e Damião se tornaram aquilo que se recusaram a adorar: ídolos. No século V, seu culto já estava estabilizado como uma versão “cristã” do culto aos deuses Castor e Pólux, filhos gêmeos de Zeus. Com a transformação do cristianismo primitivo, naquilo que hoje conhecemos como Catolicismo, Cosme e Damião foram canonizados e são padroeiros, dentre outros, dos farmacêuticos.
O culto a Cosme e Damião teve início no Brasil em 1530, com a consagração da igreja de Iguaraçu, Pernambuco, a eles.
Disfarçando seus deuses com um verniz católico, os escravos africanos incrementaram o sincretismo religioso, de modo que hoje, no Candomblé, Cosme e Damião são associados aos ibejis, gêmeos “amigos” das crianças, que teriam o poder de realizar pedidos em troca de doces.
Com certeza se Cosme e Damião estivessem vivos hoje, condenariam o seu próprio culto, tendo-o como idolatria, pois justamente por isso que morreram: por se recusar a oferecer sacrifícios a alguém que não fosse o Senhor, pois como cristãos eles sabiam que não deveriam prestar culto às imagens (Êxodo 20.3-5) e que o culto a elas está associado aos demônios (1Coríntios 10.20).
Olhando através da nuvem de superstição e idolatria, nós evangélicos aprendemos com eles a utilizar nossos dons para servir ao próximo; sua recusa ao pagamento por seus serviços médicos, não quer dizer que não se deva receber nada por serviços prestados (pois digno é o trabalhador de seu salário, Lucas 10.7;1Timóteo 5.18), mas nos estimula a fazermos o bem sem interesse, sem esperar nada em troca.
Como precisamos aprender com esses irmãos!

Imagem: Ícone de Cosme e Damião. Fonte:www.ortodoxia-brasil.blogspot.com