segunda-feira, 13 de maio de 2013

A PARÁBOLA DO PAI COMPASSIVO

Há um texto no evangelho de Lucas (15:11-32) comumente chamado de Parábola do Filho Pródigo. Mas, uma reflexão do teólogo jesuíta Carlos Alberto Contieri nos comentários da agenda devocional A Bíblia Dia a Dia 2013 (Edições Paulinas) me fez ter um olhar mais atento a essa clássica parábola sobre arrependimento. Não se trata do filho transviado que retorna ao lar paterno, mas se trata antes do coração compassivo e perdoador do pai. Como salienta Contieri: “O protagonista da parábola é o pai, misericordioso e compassivo.” O filho mais novo, depois de “torrar” a sua parte na herança do pai, só pensa em voltar para casa porque teve fome e vive mal. ”Na casa de meu pai”, pensa, “até os empregados vivem melhor do que eu”. Observa Contieri que “tudo o que pensa dizer e dirá ao pai é meio para alcançar o que efetivamente queria: matar a fome.” Realmente, ele não pensa: “O que fiz com meu pai foi errado” ou “Meu pai não merecia isso”. O amargor que estava passando é que o levara a repensar sua escolha. Tal situação o levara a pensar que pecara contra o Deus e seu pai e que não era digno de ser tratado como um filho (15:21). No texto Deus é referenciado pelo eufemismo “céu” corrente na linguagem judaica para se referir ao Senhor. A despeito de quaisquer motivos que tenham levado seu filho a retornar o pai o recebe. E o recebe como pai e não como patrão: “Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou” (15:20b). 
James Tissot: The Prodigal Son in Modern Life: The Return (1882)
"O Filho Pródigo em Tempos Modernos: O Retorno" (1882) de James Tissot (1836-1902). 
O pintor francês retrata o retorno do filho pródigo com roupas e ambiente de sua época (porto de Londres).
A compaixão do pai provocou uma reação de indignação no irmão mais velho, que nunca se desviara. Ele nunca torrara o dinheiro do pai. Ele sempre fizera tudo certinho. E agora seu irmão vacilão, pecador, volta e tem festa! Contieri nos diz que “o filho mais velho é convidado a entrar no coração do pai, pois há mais alegria no céu por um pecador que se converte” do que pelos que não precisam de conversão. O âmago da parábola não é o arrependimento do filho pródigo nem a insensibilidade do irmão mais velho. O âmago é a misericórdia de Deus que está acima dos nossos artifícios religiosos, dos nossos sentimentos confusos, do nosso legalismo. E quantos de nós não somos assim. Lembramo-nos do nosso pai somente nas aflições. Quantos de nós não chegamos até o Pai por que a aflição nos fez procurar sua proteção e auxílio. Nessa jornada descobrimos mais do que o Pai tem a nos oferecer em termos de bens; descobrimos nossa miserabilidade e sua compaixão; nossa pequenez e sua grandeza. Descobrimos que o coração de Deus é maior do que nosso legalismo de "pode-não-pode" que nos leva sermos insensíveis com os que caem. Descobrimos que Deus é sim justo e verdadeiro, mas é amoroso e compassivo. Lembremo-nos de Jeremias: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (Lamentações 3:22 )

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