quinta-feira, 12 de abril de 2012

QUEM É O BOM POBRE

Leio os textos de Júlio Severo, blogueiro evangélico, com a cautela recomendada pelo apóstolo Paulo em 1 Ts 5:21:  "Julgai todas as coisas, retende o que é bom". Muitas vezes em defesa do que acredita Júlio é muito agressivo com quem tem posições e entendimentos diferentes do dele. A forma como noticiou a morte de Robinson Cavalcanti, bispo anglicano e cientista político, de quem Júlio discordava veementemente,  foi um tanto descabida, fruto de uma avaliação pessimista do autor: "Fundador do MEP (Movimento Evangélico Progressista), o maior movimento evangélico político esquerdista da história do Brasil, colunista da revista esquerdista Ultimato, candidato do PT: o trágico fim de um evangélico que não teve tempo ou disposição de desfazer os estragos que provocou na igreja evangélica brasileira" (http://juliosevero.blogspot.com.br/2012/02/robinson-cavalcanti-fundador-de.html). Em muitos de seus textos Júlio é agressivo com as pessoas que tem uma visão cristã diferente da dele. Mas isso não impede de que o blogueiro fale (como o faz muitas e muitas vezes) coisas verdadeiras e interessantes.

Júlio Severo postou em 04/04/12 texto sobre as (não) relações da esquerda política com o neopentecostalismo. No texto ela fala de sua experiência com o tradicionalismo evangélico histórico, engajamento  e esquerdismo político, testemunho válido como reflexão para nossa prática de vida cristã:

"Conheço por experiência a realidade entre igrejas apoiadoras da Teologia da Missão Integral e as igrejas neopentecostais. Muitos anos atrás, frequentei uma igreja evangélica tradicionalista que abrigava a elite da cidade. O pastor e outros líderes, além de maçons, eram petistas, e muitas vezes diziam à minha mãe e a nós: “Vocês são pobres. Por que não apoiam o PT? O PT é para vocês!” Por ordem do pastor, a igreja inteira tinha assinatura coletiva da revista esquerdista Ultimato. Caio Fábio era a palavra final entre eles.


Havia as igrejas pentecostais e neopentecostais na cidade. A Assembleia de Deus tinha sua imposição de costumes, proibindo as mulheres de usarem calças compridas e batons, mas novelas eram permitidas. Havia a IURD, que na época era contra o aborto. Mas, em troca de bênçãos, pedia mais dinheiro do que mendigo na rua.  A igreja tradicionalista, com sua gente rica e refinada, estava infestada de maçonaria e petismo. Já os pobres estavam buscando milagres não no PT, mas na Assembleia de Deus, na IURD ou na Igreja Internacional da Graça de Deus, que não tinham nenhum interesse na Teologia da Missão Integral, na Ultimato, em Caio Fábio e no PT.


Naquela época, não entendíamos bem a Ultimato, mas dava para sentir seu cheiro ideológico e sua ineficácia na vida dos membros da igreja tradicionalista em suas necessidades. Quando precisavam de milagres de cura, eles recorriam a médiuns. Depois que começamos a frequentá-la, eles passaram a nos procurar para receber oração, pois nossa casa estava aberta para ministrar o Evangelho e oração.


Por orientação de Deus, continuamos a frequentar a igreja tradicionalista durante anos, e inspiramos muitos de seus membros a buscarem milagres não no espiritismo ou no PT, mas em Deus, visitando, com eles, especialmente a Assembleia de Deus. Com esse contato, o próprio pastor assembleiano às vezes visitava a igreja tradicionalista, mas ficava no último banco muito acanhado, pois a diferença entre ele (e suas roupas pobres) com os membros da igreja “rica” eram enormes. Enquanto a igreja tradicionalista, cheia de gente importante da cidade, se ocupava (mediante Ultimato e Caio Fabio) com uma “teologia” dos pobres, a Assembleia de Deus e igrejas neopentecostais estavam cheias de pobres!"

Esse texto lembrou-me o artigo Panorama da América Latina Hoje do teólogo católico José Comblin (1923-2011) na obra Deus e Vida: Desafios, alternativas e o futuro da América Latina e do Caribe que é a publicação dos temas e estudos de um congresso da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião) realizado em 2007. Comblin (célebre expoente da Teologia da Enxada) faz uma afirmação muito interessante e verdadeira, mas falando do clero católico e da falta de missionários:

"O únicos evangelizadores possíveis seriam leigos e leigas do mundo popular. Poderiam receber uma formação centrada na sua cultura e com métodos adaptados à sua condição social e cultural.  Sucede que a grande maioria do clero rejeita com força essa solução. Os padres têm medo de leigos pobres e preparados. O bom pobre é a pessoa humilde, submissa, feliz com os auxílios que se lhe dá em forma assistencialista"

Esses textos me fazem pensar que estamos numa cultura em que está se preferindo dar o peixe do que ensinar a pescar, pois é mais cômodo para assistidos e assistentes, mantém as distâncias e vaidades e a pseudotranquilização da consciência de que alguma coisa está sendo feita.

Para ler o texto integral de Júlio Severo: http://juliosevero.blogspot.com.br/2012/04/esquerda-continua-incomodada-com.html?o+(Julio+Severo)

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