sábado, 27 de novembro de 2010

ARREPENDIMENTO E AUTOACEITAÇÃO

O Evangelho nos chama ao arrependimento (Mt 4.17; Mc 1.15). Na Antiga Aliança, arrependimento é shub(voltar-se) e nocham (sentir pesar) como em Oséias 13.14 e 14.2; é conversão, retorno à vontade do Criador. O Novo Testamento também sublinha a conversão e o pesar ligados ao arrependimento (At 3.19; 2Co 7.10), porém verte o conceito  de arrependimento para palavra grega metanoia, isto é, mudança de mente e consequentemente de atitude. Para muitos o apelo de Cristo ao arrependimento é uma negação da autenticidade da existência humana com seus erros e incoerências. Sobre a relação do Evangelho e a existência, F. A. Pastor escreveu um interessante livro (não mais publicado) Existência e Evangelho. No livro, o autor foca seu argumento no fato de que a existência humana está fundamentada na existência de Deus e não pode ser autêntica nem plenamente realizada a parte de seu relacionamento com Deus. Porém, por vezes, parece que o arrependimento é um apelo a não aceitarmos quem somos. Abaixo citamos um extrato do livro que aborda essa relação entre autoaceitação e arrependimento.


"O arrependimento existencial é um juízo sobre nós mesmos, discernindo o bom do ruim e situando-nos da parte do bem. Nem pode pretender, nem pretende poder fazer que o que aconteceu não tenha acontecido.Pelo contrário, admite-o. Mas, suposta esta adesão fiel à verdade de nossa história existencial, o homem que se arrepende tem a coragem decidida de pronunciar-se, tomar posição e optar novamente. Com isto, rebela-se contra a aceitação passiva de uma sorte de determinismo existencial. Nada está escrito nas estrelas. Nada está sólido e firme no fluir de nossa decisão, que sempre tem de decidir novamente, nem que seja por ratificar a decisão fundamental precedente. Nossa vida sempre pode configurar-se novamente de acordo com a última tomada de posição, que é a que lhe marca o rumo, o roteiro, a estrada."

O arrepdenimento não é a negação do nosso ser; é somente a negação de nossa negação e a contestação de nossa negatividade, por fidelidade a nosso próprio ser. Assim, revisar a própria vida, deixar que a consciência nos examine e tormar posição depois disso, é justamente exercer um dos máximos

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